terça-feira, 28 de janeiro de 2014

10 - TRISTEZA NÃO É DOENÇA



Tristeza não é doença
Ficar triste dói. O sentimento pode ser passageiro ou durar muito tempo.
Mesmo nesses casos, não significa que ele só possa ser superado com remédios.
Tristeza é a resposta normal a perdas que sofremos na vida. Agora se tornou comum chamá-la de "depressão". Algo normal foi transformado em doença.
A cultura dos antidepressivos transformou em doença dificuldades que fazem parte da vida.
        A OMS (organização mundial de saúde) usa os sintomas da tristeza, que até podem ser os mesmos da depressão, sem considerar o contexto do acontecimento que deixou a pessoa triste.
Incluem na mesma estatística quem sente uma tristeza normal e quem realmente é depressivo.
Se cinco sintomas de uma lista de nove durarem mais de duas semanas, os médicos dizem que há depressão.
São eles: perda do humor; perda de interesse por atividades prazerosas; ganho de peso ou perda de apetite; insônia ou excesso de sono; agitação ou apatia; cansaço; sentimento de culpa e baixa auto-estima; dificuldade de concentração e de decisão; pensamentos recorrentes sobre morte ou tentativa de suicídio.
Ficamos naturalmente tristes pelas perdas do dia-a-dia, como de um relacionamento amoroso, de um emprego, de uma notícia de que seu estado de saúde não é bom. Ou quando há condições estressantes como a pobreza ou relações sociais em que se sofrem abusos, como os de poder.
São situações ruins, mas sofrê-las não significa que algo esteja errado. É diferente da depressão, que surge sem razão específica.
Não precisa ter acontecido algo terrível para surgir a depressão, que tem características biológicas. Ainda assim, a maior diferença não é o que acontece no cérebro. É o que ocorre dentro do contexto social. É dar à tristeza o ar de doença.
Não existe uma linha divisória definida. Podemos dizer que se uma tristeza dura mais de dois meses algo pode estar errado. Mas não significa que não tenha solução.
O que importa é que estão tratando quem levou um fora do namorado e não consegue se concentrar, dormir ou comer direito da mesma maneira que a alguém com sintomas que persistem por longos períodos.
Ficar na fossa quando um namoro acaba é a resposta natural a um estresse, e não um distúrbio mental. Uma situação dolorosa nunca é boa.
A tristeza que envolve a perda pela morte de alguém que foi importante para nós é dura e custa a passar. Por outro lado, a perda do emprego e o fim de um relacionamento amoroso são circunstâncias que nos fazem parar para pensar.
Revemos defeitos, analisamos conseqüências de nossos atos. Isso ajuda a encontrar equilíbrio na hora de começar de novo. A pessoa ganha maturidade.
O sentimento de perda provocado pela morte de alguém que amamos não é depressão, é uma situação pesada. Mas a perda pela morte também faz parte da vida. Todos vamos perder pessoas queridas, e todos vamos morrer.
O melhor a fazer é conversar com pessoas próximas. Falar com amigos e parentes. Procurar o apoio de quem nos conhece é o remédio ideal. Respirar devagar e terapia também pode ajudar. Especialmente nos casos em que a tristeza se prolonga.
O diagnóstico para distúrbios mentais se tornou generalista.
Se alguém apresentar cinco sintomas de uma lista oficiosa, é depressivo. Mas os médicos não se preocupam em questionar as circunstâncias.
Os médicos deixaram de considerar em que contexto esses sintomas surgem. Sei que no fundo é difícil para eles investigar as causas da tristeza, porque gastam no máximo 15 minutos com um paciente. É um contato muito breve e fica mais fácil receitar uma pílula.
Nem sempre é o que acreditam ser o melhor. Mas eles são pressionados pelo sistema de saúde especialmente no Brasil a não se prolongar em consultas. Os médicos estão falhando. Mas existem razões para essa falha.
Os médicos também cedem àquilo que o paciente deseja. Eles receitam o que o paciente pede quando chega ao consultório. Se não há evidências de que o paciente realmente sofre de algum transtorno, é uma atitude irresponsável.
Alguém com depressão realmente precisa de tratamento. A intenção deste artigo não é dizer que pessoas com problemas reais não devam ser tratadas da forma adequada, com remédios. Mas nos últimos anos ficou claro que consumir antidepressivos sem necessidade é um perigo. As duas situações são alarmantes.
A indústria farmacêutica ganha muito dinheiro com antidepressivos. Promove esses produtos com anúncios mostrando pessoas felizes, que superaram seus problemas ao engolir uma pílula.
     É uma cena comum apresentada na publicidade. São casais, pais e filhos em situações do cotidiano, da família, do trabalho, que estão bem graças a um remédio.  
       É um marketing poderoso e perigoso.


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