terça-feira, 16 de setembro de 2014

240- A fisiologia do orgasmo e ejaculação feminina, você precisa saber.

Dra. Carmita Abdo é médica, professora de psiquiatria e coordenadora geral do ProSex, Projeto de Sexualidade do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo.


NOVA POSTURA FEMININA
- Transtornos na área da sexualidade afetam homens e mulheres.
- Eles, de certa forma, estão mais acostumados a tratar do assunto e, embora muitos retardem o quanto possam a visita ao médico, a maioria acaba buscando orientação.

- Com as mulheres, o problema se desenvolveu de modo diferente. Fatores culturais, religiosos, morais e de educação influenciaram – e ainda influenciam – sua maneira de entender e praticar o sexo.
- Se considerarmos que em algumas comunidades a amputação do clitóris é costume preservado ao longo dos tempos, podemos perceber quão profundas podem ter sido essas influências no imaginário feminino.

- As mulheres antigas raramente se referiam às suas dificuldades sexuais. Hoje, essa atitude mudou e muitas se queixam de não estarem sexualmente satisfeitas. Estudos realizados pelo ProSex,
- Projeto de Sexualidade do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo, permitem identificar três tipos principais de queixas: falta de desejo, incapacidade de atingir o orgasmo e dor durante a relação.

- Essa mudança de comportamento tem sido fundamental para enfrentar as dificuldades que sempre existiram no universo feminino. Entretanto, além da ajuda profissional, é preciso estimular a intimidade entre os parceiros para que juntos possam descobrir o que traz mais prazer a cada um deles.

DISFUNÇÃO ORGÁSMICA
Drauzio – Qual sua visão a respeito da dificuldade feminina de atingir o orgasmo?

Carmita Abdo – A mulher tem dois pontos de excitação em sua genitália: o clitóris e a vagina. O homem tem um só e desde criança aprende que por meio da estimulação do pênis vai chegar ao prazer.

Na masturbação, a mulher aprende a excitar-se clitoridianamente.
- Quando começa a fazer sexo com um parceiro, acha que deve mudar de local e atingir o prazer na vagina pela penetração. Nem todas conseguem. Além disso, o fato de buscar o orgasmo vaginal simultâneo ao do parceiro atrapalha muito as mulheres na obtenção do prazer.

- No Brasil, há dados sobre isso. Um terço de nossas mulheres nunca atingiu o orgasmo por penetração nem por autoestimulação; um terço alcança o orgasmo vaginal e o clitoridiano e um terço não consegue ter orgasmo dentro da vagina. Infelizmente, embora não se sintam satisfeitas ao término da relação sexual, a imensa maioria das que não atingem o orgasmo, nada revela a seus parceiros.
- O mais importante, porém, não é a falta da satisfação.

- A ausência de orgasmo pode ser sinal de problemas orgânicos mais sérios como deficiência hormonal, depressão, diabetes ou disfunções glandulares como o hipotiroidismo e o hipertiroidismo.
- Vale também citar certas posturas culturais (a educação repressiva é uma delas) que podem repercutir no desempenho sexual da vida adulta.

- A mulher deve estar sempre atenta a suas dificuldades sexuais, pois podem representar um marcador de sua saúde.
- Por isso, é necessário considerar o problema de forma mais ampla e pesquisar as possíveis causas da disfunção orgásmica.

FISIOLOGIA DO ORGASMO
Drauzio – Fale um pouco sobre a diferença entre a fisiologia do orgasmo sexual masculino e a do orgasmo sexual feminino, pois nessa diferença parece residir grande parte dos desacertos.

Carmita Abdo – A resposta sexual tem quatro etapas. Começa pelo desejo, passa para a excitação que vai crescendo, chega ao orgasmo e termina num período refratário chamado de resolução. O desejo no homem é muito precoce e ele atinge o pico de excitação em pouquíssimo tempo.
- A mulher precisa do contato físico para passar da primeira para a segunda fase.
- O homem é visual, a mulher é tátil e aí começa a defasagem.
- Se ele é inexperiente, um ejaculador precoce ou apresenta uma disfunção erétil conhecida como impotência, não vai conseguir compor-se com a mulher e esperar que ela chegue ao pico de excitação e ao orgasmo.
- Muitas vezes, quando ele está terminando, ela está apenas no começo e não teve sequer a oportunidade de comunicar-lhe o que a agrada ou não.
- Além disso, quase sempre se cala para não constranger o parceiro nem deixá-lo em situação difícil.

- É uma questão de tempo. Um tem de esperar o outro. Como é difícil para a mulher adiantar-se, determinar esse compasso caberia ao homem, pois, teoricamente, estaria mais apto para atrasar-se.
- Na prática, porém, é comum isso não acontecer, porque ele não está suficientemente preparado nem disponível para essa espera.
- Por outro lado, frequentemente, ele não sabe o que se passa com a parceira porque, por medo de perdê-lo em virtude da incapacidade de estabelecer sincronia, ela nada lhe diz.
- É importante que os homens tomem conhecimento desse fato e propiciem às mulheres a oportunidade de falar. Perguntem. Quem sabe, assim, passemos a falar mais antes do que durante o ato sexual.
- No Brasil, metade dos homens e das mulheres tem problemas sexuais. A disfunção sexual é um problema de saúde pública e, quanto mais precocemente for tratada, menos desajustes sérios provocará no casal.
OCORRÊNCIA DE PROBLEMAS SEXUAIS
Drauzio – Você disse que 50% dos homens e 50% das mulheres têm problemas sexuais. O que quer dizer isso exatamente?

Carmita Abdo – No Brasil, 30% das mulheres já confessaram que não têm orgasmo; 35%, que têm alguma dificuldade de sentir desejo e 21%, que sentem dor na relação sexual. Claro que esses não são números isolados.
- A mesma mulher pode manifestar os três sintomas simultaneamente e isso perfaz 49%.

- E os homens? Pode-se dizer que 46% deles apresentam algum grau de disfunção erétil. Em alguns casos, a disfunção é mínima, ou seja, o indivíduo tem dificuldade de manter o pênis rijo como gostaria ou como já foi um dia. Noutros, a disfunção é moderada.
- Apesar da perda significativa da ereção, esses conseguem realizar ato sexual pleno com penetração. Por fim, há os casos de disfunção completa, ou seja, ausência total da capacidade eretiva, o que impede completamente a relação.
- Esses casos estão assim distribuídos: 2,5% têm disfunção completa; 30% apresentam falta parcial e o restante, disfunção mínima.
- A idade costuma ser um fator agravante para os homens. Para dar uma noção, aos 40 anos, 1,2% deles tem disfunção completa; aos 70 anos, 12%.

REPERCUSSÕES PSICOLÓGICAS DA FALTA DE ORGASMO
Drauzio – Quais são as repercussões psicológicas da falta de orgasmo na mulher?

Carmita Abdo – Primeiro, é preciso pensar que nem toda mulher exige o orgasmo e que para muitas nem mesmo o sexo é prioritário em suas vidas.
- No entanto, atualmente, a grande maioria começa a desejar obter o prazer máximo.
- Se é no clitóris que consegue a sensação, deve explicar a seu parceiro, porque o orgasmo provoca satisfação e relaxamento.

- A falta de descarga orgástica dificulta a liberação da tensão sexual acumulada e torna a mulher mais irritadiça e de relacionamento interpessoal mais difícil.
- Por isso, insisto que as mulheres não devem ficar se cobrando o orgasmo intravaginal simultâneo. Diria mesmo que ele é quase um mito, pois é muito difícil duas pessoas chegarem ao mesmo tempo ao fim do ato sexual todas as vezes que se relacionam.
- Quando isso acontece, é motivo de festa, de comemoração.

Drauzio – Para alguns casais, essa incapacidade de atingir o orgasmo simultâneo é motivo de frustração. No final, que importância isso tem?

Carmita Abdo – Não tem nenhuma importância. O que se espera é que haja companheirismo e parceria até o término do ato sexual.
- Dessa forma, o que atingiu primeiro o orgasmo deve continuar estimulando o parceiro para que também chegue ao prazer perfeito.

- Onde as coisas se complicam? Quando um dá por terminada a relação sem se importar com a satisfação do outro. Muitas vezes, a mulher precisa masturbar-se após o ato sexual, porque o companheiro terminou antes, virou de lado e não se preocupou com o que estava acontecendo com ela.
- Nesses casos, é comum ela insistir no orgasmo simultâneo como forma indireta de mostrar que ele precisa aguardá-la.
- Para os homens que estejam bem sexualmente é mais fácil manter esse controle.
- Se apresentam ejaculação precoce ou disfunção erétil, o caso muda de figura.

FISIOLOGIA DO ORGASMO
Drauzio – Você poderia explicar a fisiologia do orgasmo?

Carmita Abdo – O orgasmo não se limita aos órgãos genitais. É uma sensação que toma o corpo todo e começa no cérebro através do desejo, que é estimulado pelos órgãos dos sentidos e pela imaginação.
- É no cérebro que a pessoa se libera para o ato sexual.
A pele, o maior órgão sexual que possuímos, desempenha papel importante nesse processo. Estimulada, faz com que uma série de neurotransmissores entrem em ação e transmitam informações aos genitais para que sejam liberadas secreções visando à lubrificação do local.
- Os músculos relaxam, o corpo fica alerta, a respiração mais acelerada e o coração bate mais forte a fim de irrigar a zona onde a excitação é mais intensa.

ORGASMO CLITORIDIANO E VAGINAL
Drauzio – Qual a diferença entre a fisiologia do orgasmo clitoridiano e a fisiologia do orgasmo que a mulher atinge por penetração?

Carmita Abdo – A fisiologia é praticamente a mesma, apenas a mulher tem dois pontos em que pode excitar-se. Não há uma via específica que encaminha para um local ou outro.
-  Acontece que, às vezes, elas aprenderam a excitar-se no clitóris e fica difícil transportar essa forma de obtenção de prazer para dentro da vagina.
- Como esse assunto faz parte de nosso trabalho, ouvindo o depoimento de muitas mulheres, parece que o orgasmo dentro da vagina é mais amplo e espalha-se pelo corpo de forma mais intensa.
- O clitoridiano é mais silencioso, mais restrito, até porque é o orgasmo que a menina, durante a adolescência, praticou às escondidas, reprimindo qualquer exteriorização mais evidente. Essa característica da autoerotização feminina, leva a mulher a exercer certo controle sobre esse tipo de prazer.

PONTO G: EXISTÊNCIA CONTROVERTIDA
Drauzio – O ponto G é assunto discutido em todas as revistas femininas, não é?

Carmita Abdo – Muito se discute hoje se existe ou não o tal ponto G, local mais enervado e vascularizado dentro da vagina onde é maior a possibilidade de prazer.
- Pergunta-se também se a glande masculina terá sensibilidade para encontrar esse ponto.


- Segundo os anatomistas, a penetração profunda não o estimula, porque ele se localiza na parede anterior do terço inferior da vagina. Imaginando a mulher deitada de costas, ele estaria mais próximo do umbigo do que do ânus.
- Teoricamente, a penetração profunda não favorece a excitação do ponto G. É necessário estimular o terço inferior da vagina para aumentar o prazer da mulher.

- Por outro lado, a borda da vagina também é muito excitável. Se o homem tiver tranquilidade suficiente para excitar essa região e, só depois, pouco a pouco ir penetrando, além de propiciar maior prazer à mulher, estará oferecendo-lhe a oportunidade de aprender a explorar o prazer intravaginal.
- Às vezes, porém, ele se excita demais, não consegue controlar a situação e perde a continuidade do ato.
- Como se vê, fazer sexo é uma questão de treino para ambas as partes.

EJACULAÇÃO FEMININA
Drauzio – Muitos homens esperam da mulher, no momento do orgasmo, um fenômeno semelhante ao da ejaculação masculina.

Carmita Abdo– Algumas mulheres, em virtude do orgasmo vaginal intenso, liberam muito líquido durante o ato sexual.
- Muitas vezes, elas relatam que ficam completamente molhadas e chegam a levantar a hipótese de que tenham urinado.
- Só Cerca de 10% das mulheres apresentam esse tipo de ejaculação.
- Quem não tem, não precisa preocupar-se, porque basta a lubrificação para garantir desempenho sexual bastante satisfatório.

- Esse fenômeno seria resquício da semelhança existente entre os genitais masculinos e femininos na fase embrionária, já que eles só se diferenciam completamente ao longo do desenvolvimento intrauterino.


-A mulher exerce certo controle sobre esse tipo de prazer.

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