quarta-feira, 12 de março de 2014

72 – AS IDADES DO CÉREBRO.

"A IDADE ESTÁ NA CABEÇA"
- A fronteira atual da neurociência, cada vez mais avançada por conta dos sucessos recentes no desenvolvimento de técnicas não-invasivas de estudo do cérebro, mostra que é possível dividir a vida cerebral em várias etapas:

- a fase infantil, que dura mais ou menos até os 12 anos, a fase do cérebro adolescente, a fase adulta e uma ligada à terceira idade.

- O cérebro infantil, como todo mundo que convive com criança pequena sabe, é incansável.

- Tudo é motivo para alegria ou tristeza, as emoções afloram com facilidade e, de uma forma geral, a capacidade racional é ofuscada pela confusão e por uma profusão de sensações diferentes.

- Não é à toa. Embora a genética e o desenvolvimento já forneçam um padrão de organização para o cérebro, com regiões diferentes servindo a propósitos diferentes, elas ainda não tiveram tempo e experiências suficientes para se fixarem no cérebro. É praticamente um livro aberto.

- O segredo das células nervosas é que elas falam umas com as outras o tempo todo, criando uma rede neural responsável por tudo que pensamos (e também pelo que ocorre sem que precisemos pensar).

- É a partir dessa fase que o cérebro começa a ser verdadeiramente moldado - as sinapses em excesso, que compõem, junto com os neurônios, a chamada massa cinzenta do cérebro, começam a sumir, deixando apenas aquelas que foram mais utilizadas ao longo da infância.

- Por essa razão é tão mais fácil aprender coisas novas na infância do que mais tarde - será esse aprendizado, que pode envolver desde a prática de esportes ao conhecimento de línguas, que definirá quais sinapses sobrarão e quais sumirão.

- É como se o cérebro fosse um bloco de mármore que vai sendo esculpido de acordo com a vida de cada um, que dita quais sobras remover, até que uma bela estrutura emerge, muito mais bonita e significativa do que o bloco original, bruto".

- Uma vez que a massa cinzenta começa a diminuir, a massa branca do cérebro passa a aumentar. Ela é composta pelos axônios, os "tentáculos" usados pelos neurônios para se conectarem uns aos outros.

- Com a adolescência, além da redução das sinapses e, portanto, da massa cinzenta, os axônios passam por um processo de "reforma", sendo engrossados por um revestimento feito com uma capa composta por uma proteína chamada mielina.

- Essa capa protetora ajuda a reforçar a passagem de impulsos elétricos por ali, mostrando essa consolidação das redes cerebrais. O cérebro infantil deixa de ser um livro aberto e começa a caminhar na direção de sua configuração final.

- E aí começa a ser ainda mais perceptível como cada região cerebral evolui em seu próprio ritmo.

- Uma das regiões que precisa de reformas urgentes ao entrar na adolescência é o giro pós-central, uma faixa do cérebro pertencente ao chamado lobo parietal que fica no topo da cabeça, um pouco mais para trás do que a posição tradicional de uma tiara.

- Ela guarda, em várias fatias diferentes, as representações que o cérebro faz do corpo.

- Suas mãos, seus pés, seus olhos, sua boca, tudo que você faz alguma questão de sentir ou controlar está registrado lá. Durante a infância, o giro pós-central tem tempo para se adaptar ao ritmo paulatino de crescimento.

- Entretanto, com a explosão da adolescência, as pessoas tendem a "espichar" com muito mais rapidez, pegando essa área do cérebro de surpresa.

- O cérebro vai envelhecendo da parte de trás para a da frente. E ocorre que, adivinhe só, as regiões frontais são as responsáveis pelas tomadas de decisão, pesando as emoções envolvidas (córtex órbito-frontal), e pela capacidade de projetar um esquema de causas e conseqüências dos atos (córtex pré-frontal dorso-lateral), infelizmente, elas só estão começando a amadurecer quando começa a adolescência.

- É um engano pensar que, depois que passou a adolescência tem um cérebro "prontinho".

- As regiões do lobo frontal são as últimas a completar seu desenvolvimento e só se estabilizam no padrão "adulto", com o aumento da massa branca cinzenta , por volta dos 30 anos. Se não isso, mais.

- A partir desse ponto, pode-se dizer que o cérebro está tinindo, não há mais variações abruptas do funcionamento do sistema de recompensa, a capacidade de raciocínio abstrato está a mil, o poder de empatia e de imaginar o que os outros estão pensando (de você e do mundo) está bem ajustado, o hipocampo, responsável pela memória, funciona muito bem, obrigado.

- Essas são as boas notícias. As más são que, daí em diante, o único caminho é para baixo. Pelo menos, nada acontecerá de repente.

- A ladeira não é íngreme e exige análises de muitos e muitos anos para se fazer sentir nos estudos científicos.

- Um dado interessante é que não há perda significativa de neurônios durante o envelhecimento normal (quando não existem doenças degenerativas acelerando o processo).

- Estudos já mostraram que, por exemplo, a realização periódica de exercícios físicos pode estimular a criação de novos neurônios.

- Mas a coisa mais curiosa é que não basta fazer exercícios a atividade física tem de ser voluntária, e não forçada. O que mostra que não se pode estimular o cérebro na base da obrigação.

- No final das contas, é a mentalidade da pessoa, a forma com que ela encara a vida, que vai determinar a idade do seu cérebro - comprovando o velho ditado, "a idade está na cabeça".


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