"A
IDADE ESTÁ NA CABEÇA"
- A fronteira atual da neurociência, cada vez mais avançada por
conta dos sucessos recentes no desenvolvimento de técnicas não-invasivas de
estudo do cérebro, mostra que é possível dividir a vida cerebral em várias
etapas:
- a fase infantil, que dura mais ou menos até os 12 anos, a fase do
cérebro adolescente, a fase adulta e uma ligada à terceira idade.
- O cérebro infantil, como todo mundo que convive com criança
pequena sabe, é incansável.
- Tudo é motivo para alegria ou tristeza, as emoções afloram com
facilidade e, de uma forma geral, a capacidade racional é ofuscada pela
confusão e por uma profusão de sensações diferentes.
- Não é à toa. Embora a genética e o desenvolvimento já forneçam um
padrão de organização para o cérebro, com regiões diferentes servindo a
propósitos diferentes, elas ainda não tiveram tempo e experiências suficientes
para se fixarem no cérebro. É praticamente um livro aberto.
- O segredo das células nervosas é que elas falam umas com as outras
o tempo todo, criando uma rede neural responsável por tudo que pensamos (e
também pelo que ocorre sem que precisemos pensar).
- É a partir dessa fase que o cérebro começa a ser verdadeiramente
moldado - as sinapses em excesso, que compõem, junto com os neurônios, a
chamada massa cinzenta do cérebro, começam a sumir, deixando apenas aquelas que
foram mais utilizadas ao longo da infância.
- Por essa razão é tão mais fácil aprender coisas novas na infância
do que mais tarde - será esse aprendizado, que pode envolver desde a prática de
esportes ao conhecimento de línguas, que definirá quais sinapses sobrarão e
quais sumirão.
- É como se o cérebro fosse um bloco de mármore que vai sendo
esculpido de acordo com a vida de cada um, que dita quais sobras remover, até
que uma bela estrutura emerge, muito mais bonita e significativa do que o bloco
original, bruto".
- Uma vez que a massa cinzenta começa a diminuir, a massa branca do
cérebro passa a aumentar. Ela é composta pelos axônios, os
"tentáculos" usados pelos neurônios para se conectarem uns aos
outros.
- Com a adolescência, além da redução das sinapses e, portanto, da
massa cinzenta, os axônios passam por um processo de "reforma", sendo
engrossados por um revestimento feito com uma capa composta por uma proteína
chamada mielina.
- Essa capa protetora ajuda a reforçar a passagem de impulsos
elétricos por ali, mostrando essa consolidação das redes cerebrais. O cérebro
infantil deixa de ser um livro aberto e começa a caminhar na direção de sua
configuração final.
- E aí começa a ser ainda mais perceptível como cada região cerebral
evolui em seu próprio ritmo.
- Uma das regiões que precisa de reformas urgentes ao entrar na adolescência
é o giro pós-central, uma faixa do cérebro pertencente ao chamado lobo parietal
que fica no topo da cabeça, um pouco mais para trás do que a posição
tradicional de uma tiara.
- Ela guarda, em várias fatias diferentes, as representações que o
cérebro faz do corpo.
- Suas mãos, seus pés, seus olhos, sua boca, tudo que você faz
alguma questão de sentir ou controlar está registrado lá. Durante a infância, o
giro pós-central tem tempo para se adaptar ao ritmo paulatino de crescimento.
- Entretanto, com a explosão da adolescência, as pessoas tendem a
"espichar" com muito mais rapidez, pegando essa área do cérebro de
surpresa.
- O cérebro vai envelhecendo da parte de trás para a da frente. E
ocorre que, adivinhe só, as regiões frontais são as responsáveis pelas tomadas
de decisão, pesando as emoções envolvidas (córtex órbito-frontal), e pela
capacidade de projetar um esquema de causas e conseqüências dos atos (córtex
pré-frontal dorso-lateral), infelizmente, elas só estão começando a amadurecer
quando começa a adolescência.
- É um engano pensar que, depois que passou a adolescência tem um
cérebro "prontinho".
- As regiões do lobo frontal são as últimas a completar seu
desenvolvimento e só se estabilizam no padrão "adulto", com o aumento
da massa branca cinzenta , por volta dos 30 anos. Se não isso, mais.
- A partir desse ponto, pode-se dizer que o cérebro está tinindo, não
há mais variações abruptas do funcionamento do sistema de recompensa, a
capacidade de raciocínio abstrato está a mil, o poder de empatia e de imaginar
o que os outros estão pensando (de você e do mundo) está bem ajustado, o
hipocampo, responsável pela memória, funciona muito bem, obrigado.
- Essas são as boas notícias. As más são que, daí em diante, o único
caminho é para baixo. Pelo menos, nada acontecerá de repente.
- A ladeira não é íngreme e exige análises de muitos e muitos anos
para se fazer sentir nos estudos científicos.
- Um dado interessante é que não há perda significativa de neurônios
durante o envelhecimento normal (quando não existem doenças degenerativas
acelerando o processo).
- Estudos já mostraram que, por exemplo, a realização periódica de
exercícios físicos pode estimular a criação de novos neurônios.
- Mas a coisa mais curiosa é que não basta fazer exercícios a
atividade física tem de ser voluntária, e não forçada. O que mostra que não se
pode estimular o cérebro na base da obrigação.
- No final das contas, é a mentalidade da pessoa, a forma com que
ela encara a vida, que vai determinar a idade do seu cérebro - comprovando o
velho ditado, "a idade está na cabeça".
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